setembro 27, 2009

Sangue bom..

Sangue fresco, numa loja de conveniência perto de você. É mais ou menos assim no seriado True Blood, do roteirista Allan Ball, o mesmo do belíssimo Beleza Americana. Nesse exercício de ficção científica que junta vampiros e humanos em situações que tocam o inverossímil sem qualquer escrúpulo, chegou-se ao melhor dos mundos se o barato é sangue sintético. Não se sabe como, está lá e faz parte da história.
A vida real traz uma jornada nada simples pra dar solução a essa preocupação crescente no mundo: o ouro vermelho não está disponível na medida da necessidade. Perdão pelo trocadilho infame, mas os bancos de sangue estão literalmente no vermelho, mesmo em países como a Espanha, por exemplo, que tem um dos maiores índices de doadores no mundo. Artigo publicado no El País da última quinta sobre os esforços científicos para produzir sangue artificial dá uma dimensão sensível dos desafios.
Liguei imediatamente pra Bella, que ama vampiros e seres improváveis afins e tem conhecimento curioso sobre o que se produz sobre o tema pra telona. Ela ignora que metade das doações de sangue hoje é usada em procedimentos junto à população com mais de 60 anos, que deverá dobrar até 2050. Também não está preocupada com o número decrescente de doadores.
No seu imaginário adolescente, sangue bom é sangue pra vampiro – ou de vampiro. Já sabe que Twilight (Crepúsculo), baseado na obra de Stephenie Meyer, é quase uma Disneylândia diante de monstros sagrados como o Drácula de Coppola, levado ao cinema em 1992, numa adaptação do romance do irlandês Bram Stoker. Forse, não conhece a saga vampiresca no cinema, inaugurada em 1922, tendo como inspiração livre a obra do mesmo Stoker, quando Murnau, ícone do expressionismo alemão, trazia um Nosferatu de enigmática bissexualidade.
Trajetória cinematográfica à parte – super gostei de Entrevista com o Vampiro (1994), do livro da Anne Rice -, a demanda real por sangue potencializa-se diante do mundo louco de guerras e desastres naturais. A perspectiva é que o déficit de doações nos EUA em 40 anos chegue a 1,5 milhão de litros de sangue. No resto do mundo não será diferente.
As pesquisas com células-tronco avançam, mas a produção de células sanguíneas ainda depende da fábrica humana, a medula óssea. Transportar essa produção para um ambiente de laboratório ainda é ficção. A Universidade de Edimburgo, na Escócia, onde gerou-se a ovelha Dolly, prevê – se tudo der certo – que as primeiras transfusões-teste em voluntários humanos comecem em 2012.
Sem contar que o sonho do sangue artificial ainda deve ultrapassar barreiras como o isolamento dos glóbulos vermelhos, seu prazo de validade curto e a crescente diversidade de grupos sanguíneos e antígenos. Mesmo nas linhas de pesquisa mais realistas, a fábrica humana a ser mimetizada – com produção de um bilhão de glóbulos vermelhos por hora – é uma quase alucinação.
Sou forçada a escolher o ópio cinematográfico, cientista que não sou, a ficar descabelando diante da informação básica de que as hemoglobinas fofas que perambulam pela minha corrente sanguínea, fazendo trocas incríveis de oxigênio por dióxido de carbono, podem faltar a qualquer momento, diante da fatalidade mais besta.
Ainda assim, e mesmo que não-doadora por conta de uma hepatite aos vinte e poucos anos, sou a favor de campanhas junto à galera. Doar sangue faz bem à saúde.
Se um vampiro lindíssimo..

setembro 21, 2009

Não me suporte

Hipocrisia mensurar o que é comportamento ético ou emocional. O limite da tolerância é ganhar ou perder, disse o menino Robson, na barraca da praça. E já era tarde. Vou lá vez em quando, depois que fecha o bar. Por lá, ninguém conversa comigo. Mas vende-se cerveja e cigarros.
No geral, homens fingem melhor o bom humor. E a intuição feminina acaba por atravessar inadvertidamente o que não tem conserto. Buh.. nada disso. A imprevisibilidade das mulheres é o grande barato - dialoga com a tolerância como um céu de litoral. E é grátis.
Bertolt Brecth dizia: a vida é assim! Dizia sobre as relações de opressão.
Falemos da tolerância comum. Que minha tarde maldita de domingo fez pensar a bastanza about. Motoristas de finde serão para sempre seres disgusting (não que os outros sejam exatamente melhores). Mas a inabilidade, lerdeza, imprecisão e estupidez desses seres eventuais tiram qualquer pessoa do normal. Se fosse só isso..
O que seria um estado normal? Pra quem não tem carro e dialoga com outras misérias.. Outra investigação. Uma mácula grudou e fiquei mals, asmática, como de praxe rola quando a situação não me permite nada mais que pensamentos imperfeitos.
Qual o entendimento da intolerância?
Do racionalismo burro, que nos comanda e determina, à beira do abismo, pode ser menos que um passo. Pro meu interlocutor quase psi, a incursão cotidiana e o prosaico do todo fazem ligar o off.
Desligado, fica difícil, mano..
A indignação torna-se elástica. Na política, por exemplo (melhor não comentar atas do senadinho e etcs). Diante das estatísticas policiais, idem. As revelações do IBGE, falamos depois.
Traz um terço muçulmano nas mãos, cabelos grisalhos, moleton, sem pose. São Francisco é um ícone, mas anseia um terreiro de candomblé. O ceticismo é errante, da manipulação ao envenenamento gostoso que o dinheiro permite.
Como costurar esses cosmos eletrocutados?
Meu ego, sua ambição, a cordilheira, nosso grande amor? Será possível um encontro coletivo consciente? No.
As experiências de travessia são particulares, cada uma com seu pertencimento diferente. Beligerâncias não tardam.
A indústria do holocausto está aí pro debate. E sempre há de aparecer um louco pra dizer que não é bem assim. Não fui lá. Se for, me matam no primeiro minuto. Eu, pretensa tolerante.
E viva a putaria, o imaginário ocidental. Quem é tolerante com quem?
Que construção cultural vai determinar uma atitude harmônica se vivemos num estado de conflito que é a própria essência da modernidade sem noção?
O ego predomina sobre o self. A tentativa de inserção no mundo primitivo e mítico resta perdida.
Conflito e morte, mezzo traduzidos no cinema e na literatura. A intolerância em todas as suas formas faz bilheteria e crítica.

setembro 16, 2009

Alice no país das maravilhas

“Fogem como coelhos.”
Meu amigo Sérgio Pinheiro Lopes, autor de Peneira do Tempo, é quem esclarece: acoelhar-se pode ter como entendimento acovardar-se.
Pois.. Acovarda-se como é comum ao gênero humano masculino em circunstâncias de tensão emocional relacionadas ao amor romântico.
Se, depois de um bom tempo sem postar, torno à blogosfera, não deixaria de registrar episódio tão curioso, ainda que absurdamente comum. Sim, parece estranho comentar situação quase íntima. A avozinha lá das Minas Gerais jamais perdoaria. Mas, o bom de Minas, o bom mesmo, é sair de lá. E se nessas terras de Sumpaulo ainda me encanto com o anonimato sempre possível, o desabafo torna-se legítimo. Tem e não tem endereço.
Alice, pela pena de Lewis Carrol, em Alice in Wonderland, cai na toca do coelho e a história fantástica e nonsense dá uma idéia do que pode acontecer em eventuais aventuras envolvendo esses bichinhos fofos.
Nem tão fofos assim. Na Austrália, o jornal The Cairns Post noticiou hoje a saga de uma dupla de coelhinhos assassinos, responsáveis pela morte de uma dezena de cobras nas últimas semanas. Modus operandi, mordidas. Tempo de atuação, dois minutos.
Mas esses mamíferos da família Leporidae na verdade são herbívoros, vivem no máximo 10 anos e dão conta de estatísticas assustadoras de reprodução, com a façanha de mais de 70 filhotes por ano. Os selvagens da espécie têm hábitos noturnos (sic). E no mundo encantado dos animais domésticos, estão no topo do ranking de precocidade quando se trata de maturidade sexual.
Necessário comentar que degustar um coelho preparado por um chef habilidoso pode ser uma experiência gastronômica incrível. Sua carne é macia, saborosa e de fácil digestão. Além disso, a lã produzida com seu pelo é super soft; seu cocozinho transforma-se num adubo de excelente qualidade, rico em fosfatos e nitratos; sua cartilagem pode virar cola de primeira e, das vísceras, ainda é possível fazer farinhas.
Os japoneses, espertos, ou nem tanto, ou não exatamente, usam os bichos pra aliviar o estresse. Por lá, anda fazendo sucesso um negócio singular, os chamados “cafés de coelho”, onde se paga cerca de um dólar por minuto pra acariciar os coelhinhos.
No Brasil, depois do sal, o petróleo, milhões de barris. Riqueza que, reza a lenda, há de integrar a cesta básica de cada tupiniquim invisível. A Bovespa vai super bem, obrigada, o desmatamento vai acabar – com a floresta, bem entendido – e do Senado ao STF, estamos bem representados. Parece 'bem' demais pra um povo só.
Meu amorzinho foi embora. Go to hell e boa viagem. Amanhã tenho um novo – e bacanérrimo – job. E cada vez que entro no elevador aprendo uma nova expressão em chinês. Ni hau?
Sim, tá tudo bem. Os humanos, compulsoriamente obrigados a girar num ritmo alucinado sem entendimento, são seres estranhos e nem toda a racionalidade possível vai dar conta da sua loucura. Meu psicanalista que me desculpe, mas os humanos do gênero masculino são, sim, um pouco mais estúpidos.
So sorry, sou apenas barroca, não faço mágica.

setembro 09, 2009

Eduardo e Mônica

Imperfeições, resgate. Todo dia, toda hora.
Chegou sexta-feira, acabou o domingo, foi-se o feriado. A semana atropelou de tal forma que não escrevi nada, im-pressionada com os prazos.
Um espetáculo bacana e um filme besta me deixaram constrangida.
No finde passado, Roosevelt: a comédia Análise Comportamental e Crítica da Música Eduardo e Mônica, no Parlapatões. Ir ao teatro numa sessão da meia-noite já é um bom começo. Antes.. drinks, performances e pessoas pela rua.
O protagonista, um sujeito de verve, cuidado precioso na construção, sozinho no palco. Texto mezzo bom, de um publicitário de Brasília que assina o pseudônimo Adolar Gangorra. Fábio Espósito, ator encarnado no professor, iê iê iê. Leve a presença da pessoa magnética no palco pequenino. Sim, palmas pro careca barrigudo que protagonizou a tal análise, pouco física, mas intelectualóide bem bacaninha sobre o nonsense. Renato Russo pretendeu, afirma o catedrático, a corrupção do menor Eduardo pela descolada Mônica. Hahahah.
Sim, demos boas risadas. Sorry, mas derraparam. O que pensaram diretor e produtores ao colocar aquele pobre Pablito desconexo e desnecessário em cena? buh! – depois da primeira intervenção, ignorei. Tirem a pessoa de cena! Pra que esse constrangimento? É de propósito? Qual razão?
Gira a roda..
Vagabundos, terça à tarde. Ninguém trabalha nesse dueto? No. Fomos ao Cine Marabá – cinema nacional a 5 reais – ver Normais 2. Fico envergonhada. É um deserto. Dá vontade de vomitar naqueles pseudo fofos pelas calçadas mágicas do Rio.
Pitaco do meu comparsa: resta a ânsia por algum espasmo de inteligência. Se tinha, acabou nos tempos do TV Pirata. Nada surpreende. Nem dá pra chamar de entretenimento. Tudo previsível, disgusting e de uma infantilidade estúpida. Tanta coisa boa no circuito.. resta a arquitetura do velho edifício recuperado.
Well, voltamos à vida real e resolvemos tornar aos bons tempos de criação. Um roteiro a quatro mãos? Polivalentes que somos, toda comunicação é legítima. Ficção, encontro possível.

setembro 06, 2009

10 possibilidades

álcool e absinto.. iê iê iê.. eita, povo louco