julho 31, 2009

Nós, o Diabo e o automóvel

A Folha de S.Paulo publicou na última terça, dia 28, este artigo do arquiteto e urbanista Jorge Wilheim, que foi secretário municipal de Planejamento na administração da Marta Suplicy.
A qualidade da informação e do texto, sua lucidez e legitimidade valem a pena.

NÓS, O DIABO E O AUTOMÓVEL
O dramaturgo italiano Luigi Pirandello (1867-1936) disse, na década de 1930, que "o automóvel é uma criação do Diabo". Mas qual seria a estratégia empregada pelo Diabo e qual o seu objetivo?
Por meio do mecanismo da sedução, o Diabo tornou o automóvel um objeto de desejo do ser humano, pois o carro nos dá um onipotente sentimento de liberdade: locomovo-me quando quero, para onde quero e com quem eu quero! Contudo, o automóvel não nos seduz só ao agir sobre a natural aspiração de liberdade, mas também ao nos distinguir de quem não tem um: somos diferentes, melhores, com mais recursos ao revelar aos demais que temos um carro. Finalmente, e o Diabo nos conhece bem, o carro seduz porque é um objeto bonito, sensual e poderoso.
Mas qual seria o real objetivo do Diabo? Utilizando a sedução irresistível, o egoísmo e a ambição por status dos seres humanos, alcança o objetivo diabólico de gerar o caos nas cidades, o congestionamento das vias, a impossibilidade de estacionar, tudo seguido da paralisação da vida urbana.
Perante Deus, o anjo caído sempre se mostrará inocente, pois são os seres humanos que, em sua imprevidência, cupidez e estupidez, provocam o caos.
Segundo as principais religiões monoteístas, o homem foi criado à imagem de Deus, sendo vital sua controvérsia com o Diabo. Porém, segundo outras religiões, os deuses, cuja biografia constitui mito, foram moldados a partir de características (boas e más) do ser humano. Donde sua ambivalência multiuso.
Não nos admiremos, portanto, se, no caso do automóvel, nos entregamos ao mal com prazer, sorriso nos lábios. Será preciso muito esforço para dominá-lo, reduzindo-o a um objeto útil e bonito, mas com menos poder demoníaco sobre nossas mentes, retirando-lhe o poder de obliterar nosso pensamento e ofuscar realidades.
Mas este artigo não pretende ser reflexão metafísica. Os parágrafos anteriores introduzem comentário sobre o comportamento das pessoas, dos formadores de opinião, dos governantes a respeito de alguns fatos atuais da cidade de São Paulo: a) a pressão sobre a prefeitura para que veículos voltem a circular no vale do Anhangabaú; b) o aumento das pistas da marginal do Tietê; e c) o sacrilégio que se comete no Pátio do Colégio.
O atual Anhangabaú é uma reconquista dos direitos do pedestre no coração da cidade e resultou de concurso que, entre 95 propostas, tive a ventura de vencer em 1981, com coautoria da paisagista Rosa Kliass. Sua implantação, dez anos após o concurso, deve-se à iniciativa dos prefeitos Jânio Quadros (a praça da Bandeira) e Luiza Erundina (o restante do vale).
Embora destinado primordialmente a atividades envolvendo pedestres, todos os problemas de circulação de veículos na área foram considerados e resolvidos. Agora, por pressão dos comerciantes locais, que olvidam o fato de que a única atividade comercial a exigir a presença do carro é o posto de combustível, a prefeitura é solicitada a permitir novamente a circulação de veículos em parte do vale.
Segundo exemplo: para o alargamento das faixas carroçáveis das marginais do Tietê, começou o corte das árvores. Anuncia-se que haverá vasto plantio de reposição, mas não se diz que tal compensação se dará na APA do Tietê, entre Itaquaquecetuba e as nascentes do rio em Salesópolis.
E não se menciona na mídia a existência de alternativas para obter o pretendido e necessário descongestionamento diário das marginais: o rodoanel norte e as duas vias de suporte leste-oeste, paralelas às marginais, diretrizes do Plano Diretor propostas desde... 1968.
Por fim, São Paulo tem um espaço sagrado: o Pátio do Colégio, emblemático lugar da fundação da cidade. Em sua reurbanização, que projetei com misto de emoção e honra, na década de 1970, cogitei sobre essa sacralidade, limitando-me ao ensinamento "o menos é mais": espaço e lugar de visitação respeitosa e reflexão silenciosa. Pois os responsáveis por sua manutenção, embora ligados à ordem religiosa que fundou a cidade, transformaram-no em estacionamento dos veículos da Associação Comercial!
Compreende-se que ninguém seja contra o próprio carro. Nem sequer os que não o têm, mas aspiram um dia a tê-lo. Detestamos a existência do carro dos outros na nossa frente. Porém, o triunfo do egoísmo primitivo sobre a reflexão cidadã, do imediato sobre o definitivo, revelar-se-á desastroso em curto prazo (mormente quando da próxima crise: a do estacionamento).
Será que o silêncio em torno dessas "entregas" ao automóvel faz parte do projeto do Diabo? Nem instituições responsáveis pela preservação e órgãos de classe que deveriam defender projetos, nem editores da mídia e governantes manifestam-se a respeito dessas obras. Elas vão avançando envoltas no silêncio cúmplice em busca da conveniência egoísta e urgente, levando a melhor sobre o planejamento, sobre o futuro da cidade e a vida de todos nós.


Grazie, professor.

julho 27, 2009

Mamis no cqc?

O moleque liga do sítio dos avós, em Minas, onde passa férias.
- Mãe, liguei pra saber se você já mandou o vídeo.
- Que vídeo?
- Pro cqc, mãe! Você não vai se candidatar?
- Hahah. Tá maluco, filho?
- Você não vive dizendo que o programa é ousado, isso e aquilo? Já imaginou você lá? Vai ser muito da hora. Mulherzinha, esperta... vai detonar.
- Você não acha que eu sou bem comportada demais pro cqc?
- Que nada! Quando você quer, é bem louquinha. Ah, mãe. É a sua cara.
- Não tô um pouco tia pra isso?
- Nada a ver. Deixa de ser tonta, mano... Promete que vai mandar.
- ...

julho 25, 2009

Energia hostil

É de meter medo a irresponsabilidade do governo brasileiro quando o assunto é energia. A lógica obtusa dos mandatários, conjuntural e submissa, joga por terra a perspectiva de se investir numa matriz energética limpa e renovável.
Navegando por rios literários, veio a curiosidade de bisbilhotar informações outras. Deixei de lado a poética das correntezas.
Um relatório recente das Nações Unidas cita o Brasil como um dos maiores mercados mundiais de energias renováveis. Cerca de 46% da energia consumida hoje vem de fontes renováveis e 85% da capacidade de geração está na energia hidrelétrica e no bioetanol.
Mas.. plano do Ministério das Minas e Energia para o setor até 2017 prevê que 40% da energia consumida no país virá de fontes térmicas (gás, carvão, diesel, óleo combustível ou biomassa), com 68 novas unidades movidas a combustíveis fósseis. Energia suja e cara.
O salto para trás é brutal. A participação das usinas térmicas na matriz brasileira vai aumentar 500%. Energia eólica? A previsão é que sua contribuição passe de 0,3% para 0,9%.
De nada valem os rios, o vento, fartura de sol e terras para o cultivo. Não há estratégia, não contam pesquisa e entendimento acadêmico.
Custos ambientais e sociais também não entram na conta desse planejamento anacrônico.
Jesus apaga a luz.

julho 24, 2009

Navegação

Rio. Metáfora da vida e da literatura.
Guimarães Rosa mergulhou correntezas vida inteira, andou pelas margens.
Tigre e Eufrates fundaram uma civilização.
Os rios por onde passei nem são tantos. O São Francisco, um corte. Pirapora e Januária, cidades mágicas.
By the way, a matriz energética brasileira é uma barafunda e merece atenção. Estou tomando mais informações e voltaremos ao assunto.

julho 22, 2009

Nicotina dá barato!

Os adesivos para deixar o cigarro atormentam meu sono, bombardeando a corrente sanguínea com nicotina. Dá barato! Isso é bom, mas sonhos e pesadelos atropelam meus doces momentos de descanso noite afora. Acordo lesada e não tenho nenhum remedinho bifásico pra dar jeito no mau humor.
A boca nervosa antecipa preocupações com a silhueta. Como tudo há de ter um lado bom, descobri um parque a cinco quadras de casa e voltei a caminhar/correr.
Até quando haverá resistência?
A vida sem fumaça é tão sem graça.

julho 20, 2009

Arqueologia da mídia

Diretor e pesquisador da Academia de Mídia Arte de Colônia, na Alemanha, Siegfried Zielinski (1951-) diz que a arqueologia da mídia é uma filosofia de vida. Numa perspectiva pragmática, justifica essa abordagem de “desenterrar caminhos secretos na história” como trajetória de entendimento do futuro.
Meu primeiro contato com o autor, que assina o ensaio A arqueologia da mídia no volume O chip e o caleidoscópio – Reflexões sobre as novas mídias, aconteceu esses dias. Fiquei vivamente impressionada com seu eruditismo e, ao mesmo tempo, a simplicidade colocada no desejo de uma expressão estética sem padrão.
Num texto de 20 páginas, ele enumera diferentes registros históricos e descobertas científicas. O percurso tem início na história cristã de Jacó, o sonho das escadas e as representações a partir dele, sendo um dos primeiros registros a respeito o manuscrito grego de João Clímaco, de 1345.
Na linha do tempo traçada por Siegfried, o napolitano Giovanni Battista Della Porta (1538-1615) subverte a própria época, dedicando-se acima de tudo à transmutação do real e às imagens falsas que seus estudos ópticos suscitaram.
A arte dos espelhos de Athanasius Kircher (1601-1680) e o que talvez tenha sido um dos primeiros conjuntos de hardware e software do mundo, o smicroscopio, engenho portátil para recontar histórias, são apenas alguns dos exemplos que compõem a história do cinema - “a perpétua alternância de movimento e imobilidade, código binário da cultura industrial do século XIX”.
Esse influente pensador de teoria das mídias percorre um caminho entre diferentes fenômenos para mostrar com que material técnico, estético e teórico foram desenvolvidos inúmeros artefatos de articulação de mídia. E, mais, acredita e anseia pela imaginação como possibilidade para enriquecer a experiência de tempo fora dos limites da mediatização.

julho 19, 2009

Não Amarás

Acabei de rever Não Amarás (1988), de Krzysztof Kieslowski, e é sempre reconfortante perceber que a poética do roteirista e diretor não se perde. O filme é um dos dez episódios da série O Decálogo, sobre os mandamentos bíblicos, produzida originalmente para a TV estatal polonesa. Está tudo lá, a incomunicabilidade do amor, a tristeza, a solidão.
Mas também a sutileza de Kieslowski na composição narrativa, que de forma nada evidente, mas simbólica e silenciosa, sugere diferentes pontos de vista sobre o comportamento do rapaz voyer e da vizinha. E deixa as respostas – se é que elas existem – a quem quiser arriscar.
Deu saudade da Trilogia das Cores..

julho 14, 2009

Palmeira dos Índios

A notícia no rádio cita mais um discurso enviesado do presidente Lula.. mas a citação ‘Palmeira dos Índios’ me remete a uma tarde acadêmica de literatura. Pois é.. Estavam lá hoje, Lula e Fernando Collor, dividindo palanque na inauguração de uma obra do PAC. Não. Não interessa o que eles disseram.
Interessa o que relatou Graciliano Ramos, então prefeito de Palmeira dos Índios, em 1929, numa prestação de contas da prefeitura ao governador das Alagoas.
Graciliano, escritor, poeta, crítico, leitor de realidades e do fazer literário, ideólogo. O Brasil dos anos 30, desigualdades e transformações. Relatório burocrático com feitio de obra literária.

COMEÇOS
O principal, o que sem demora iniciei, o de que dependiam todos os outros, segundo creio, foi estabelecer alguma ordem na Administração.
Havia em Palmeira inúmeros prefeitos: os cobradores de impostos, o Comandante do Destacamento, os soldados, outros que desejavam administrar. Cada pedaço do Município tinha um administrador particular, com Prefeitos Coronéis e Prefeitos inspetores de quarteirões. Os fiscais, esses, resolviam questões de polícia e advogavam.
Para que semelhante anomalia desaparecesse lutei com tenacidade e encontrei obstáculos dentro da Prefeitura e fora dela – dentro, uma resistência mole, suave, de algodão em rama; fora, uma campanha sorna, oblíqua, carregada de bílis.
Pensavam uns que tudo ia bem nas mãos de Nosso Senhor, que administrava melhor do que todos nós; outros me davam três meses para levar um tiro.

De fato, é só o começo. O relatório chega às mãos de Augusto Frederico Schmidt, editor que quer saber de Graciliano sobre outros escritos a publicar.

Link da Biblioteca Nacional traz o relatório na íntegra. http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1712

julho 13, 2009

Transa Amazônica



Iracema uma Transa Amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, 1974. Produção que a censura só permitiu exibição em 1981.
Documentário que talvez tenha inaugurado um modelo particular de não-ficção, com viés de ficção. 'Niguém viu roteiro antes', afirma Bodanzky. Forse, o Coutinho entendeu.
O Pereio (é, o cara) instiga a fala dos outros sem ensaio. Aquele som péssimo do cinema brasileiro de uns tempos atrás.. não faz mal.
Realidade sem bafo. Brasil grande! Rádio, caminhoneiro, o pó de arroz das meninas prostitutas, madeira cortada, floresta queimada, vida de merda. Com a graça de Deus e do progresso!
Uma versão crua do meu querido Bye, Bye Brasil.
Quanto mudou de lá pra cá na interlocução de exploração e miséria?

julho 09, 2009

Sem solução

Mulheres. Já reparou no tom prudente e inseguro com que os homens pronuciam essa palavra? Como se falassem de um povo ancestral não inteiramente extenuado, sempre inclinado à insurgência, seduzido mas não vencido, rebelde.
by Sándor Márai.

Seu problema é nosso!


julho 07, 2009

Tempo bruto, limite ético

Não ao off.
Gay Talese e João Moreira Sales concordam.
Controversa a questão, os caras defendem a responsabilidade do jornalista de não terceirizar.
Na ressaca de off da minha geração, quase sempre reinou a voz de Deus.
Parece complicado. Passa tempo.. testemunho e credibilidade valem mais. Ética – esse conceito surrado – é o fio condutor. Assumo a responsabilidade, falo na primeira pessoa, sem consenso moral. Na reflexão e risco da minha ética individual, lealdade, sim; interesse público, sim.
Se o jogo jornalista X fonte fica embaralhado, vale lembrar Euclides da Cunha. Bancado pelas forças legalistas, fez lá o seu relato jornalístico bem comportado, cumpriu a missão. Tempos depois, Os Sertões e a realidade crua, sem idéias pré-concebidas, carnificina.
Um exemplo recente, da Itália, é Gomorra, sobre a máfia napolitana, de Roberto Saviano. Reportagem, testemunho, minúcia.
Vale a inversão, diz João Moreira Salles. Sem opinião formada, o último a se ouvir é o especialista.
Vale a informação privada, a gente miúda, defende Gay Talese.
O terror do tempo.. vida de jornalista.

julho 06, 2009

Aos perdedores!


Gay Talese está para o jornalismo assim como Pelé para o futebol, Michael Jackson para a música pop e Roger Federer para o tênis. Ao lado de Tom Wolfe e Truman Capote, Talese é um dos faróis do chamado New Journalism, uma forma de reportar notícias valendo-se de estilo e recursos literários. Elevou a reportagem à altura de obras-primas como o perfil de Frank Sinatra, dezenas de páginas sobre o cantor mais popular dos Estados Unidos, sem tê-lo entrevistado. Fez isso com outros personagens ilustres e muitos anônimos.
Nesta segunda, Gay, ou Gaetano Talese, filho de mãe americana e pai italiano, nascido em Nova York, esteve na editora Abril para abrir o Curso de Jornalismo Literário promovido pela revista Bravo! Talese falou durante uma hora e meia.
Esse senhor, de mais de 70 anos, veste-se com aprumo, terno claro, gravata colorida, colete, lenço no bolso do paletó perfeitamente talhado – seu pai era alfaiate e sua mãe costureira. Usa chapéu de abas levemente caídas, relógio de ouro no pulso esquerdo e fala um inglês fluente e perfeito. Seu senso de humor é levemente cínico e sua ironia é refinada como sua prosa.
No início de sua fala, ele contou como seus pais o influenciaram a se transformar no que é: um homem curioso, paciente e que adora ouvir histórias. Curiosidade, paciência e persistência formam o tripé do bom jornalista, ao lado, claro, de muita leitura. Ele se confessou um pouco frustrado por não ser um escritor de ficção, pois lhe falta imaginação.
Formou-se em Comunicação na Universidade de Nova York, trabalhou no The New York Times e depois começou a escrever enormes perfis em revistas como New Yorker e Esquire.
Em outro momento, comparou a construção de uma boa matéria ao cinema, é preciso encadear cena a cena. Falou da importância de se começar uma história que fisgue o leitor no primeiro parágrafo. E disse que os personagens que mais o interessam são os perdedores. Porque, afinal, dos vencedores todos vão atrás.
by André Nigri, da Bravo!

julho 05, 2009

Improbidade e prevaricação

O príncipe do Senado.. yeah..
Tudo e mais alguma coisa em benefício privado.
O povo do Maranhão e do Amapá diz o quê? Não diz.
Feudos não têm opinião formada, têm cabresto.
Se parar pra pensar..
Sarna é daquelas moléstias de extermínio lento.. Empolação, coceira e parece que é o inferno.
Tem de usar uma medicação que faz ardor na pele. Ferver a roupa, evitar a aproximação.
Estarão todos contaminados.

PS: Desejo uma sarna ardida pro senador e sua quadrilha.

julho 02, 2009

Duas vezes NÃO!

Você é abordado na rua por um pesquisador educado.
Não interessa se é pra falar sobre atum em lata, desemprego, hábitos sexuais.. x.
Se o caso é tempo, intolerância, desconfiança ou coisa e tal, simples:
1º – Sorria.
2º - Responda NÃO à primeira pergunta.
3º – Responda NÃO à segunda pergunta.
Ele vai agradecer e ir embora rapidamente.

Recortagem FLIP

Trinta e tantas personalidades – nem todas exatamente literárias – estão lá (Paraty/RJ), na cidade colonial, calçamento de pedras redondas, pertinho da mágica Trindade. Deixando de lado apelos outros da festa, a Flip traz gente boa, course.
Chico Buarque, muso eterno de olhos verdes brilhantes, a poética das músicas que amamos e a surpresa qualitativa de Leite Derramado, o melhor entre suas escrituras literárias, na minha modestíssima opinião.
Tá bom, António Lobo Antunes é o cara na 7ª edição do evento. O melhor depois de Eça de Queirós.. não sei. Mas, subversão narrativa, sofisticação, engajamento e pessimismo sempre serão bons antecedentes.
Gay Talese. A forma como regra e obsessão é de bom tom. O new journalism me encanta. Aposto na performance do sujeito.
Não dá pra ignorar Cristovão Tezza, recorte e interpretação como ofício. ‘O passado está pronto’ e cabe revisão. Grazie, professor.
Até segunda ordem, espero, das minhas editoras antenadas e sensíveis, preciosidades e afins.
Viva Manuel Bandeira!

julho 01, 2009

Subproduto


O programa na TV me faz pensar em Cabeça de Turco, do alemão Günter Wallraff, que não li.
Uma quadra, entre as ruas Vitória e Gusmões e as avenidas São João e Rio Branco, bem perto do centro de São Paulo. Um bando disforme vaga insone, enlouquecido – visão assombrada do inferno.
Um dia passei perto, era madrugada. Medo e frio, vidros fechados. Fora, o bando transido, irascível. Amorfos nos andrajos escuros. A mídia diz ‘zumbis'. Cabe.
Tristeza asmática. De resto, impotência.