agosto 23, 2009

Lula X Nixon

Em 1984, quando as ruas do país foram ocupadas pelo movimento das Diretas Já, eu estava lá, ainda não tinha 20 anos. Em 1992, nas manifestações pelo impeachment do Collor, tinha diploma universitário (sic) e também estava lá, cara pintada, levando o bordão “Indignação...”.
A alternativa que se construía naqueles anos tinha como endereço estancar a bandalheira corrupta que contaminava o poder e seus ‘vasos comunicantes’, como gostava de dizer Brizola na campanha de 1989.
Primeiro líder de um partido de esquerda eleito presidente, com 61% dos votos válidos, em 2002, Lula vinha lavar a alma do povo brasileiro. Desde então, nunca antes na história deste país, tanto se fez para reduzir o fosso entre os invisíveis e as elites. Os avanços sociais e algum bom senso na condução das políticas econômicas de lá pra cá estão aí para comprovar os muitos acertos do governo.
Mas.. – e me desculpo antecipadamente à fúria insana da minha amiga Sylvia Manzano, que virá, eu sei – o presidente deixou-se enredar pelo canto da sereia e transformou-se em mais um contaminado pela banda podre do poder. Ele e seu pessoal – Mercadante é um dos ícones mais emblemáticos e tristes – estão aí, a serviço de conveniências privadas. Confessar erros e admitir culpa?
Remete a um dos melhores roteiros de cinema dos últimos tempos, Frost X Nixon, do dramaturgo inglês Peter Morgan. Na lógica que, segundo o próprio Morgan, leva ao modus operandi de Shakespeare, juntar fato e ficção na recomposição de figuras históricas pode ser um excelente recurso de exploração da alma humana.
Lula, o Filho do Brasil, de Fábio Barreto, tem estréia no circuito comercial prevista para 2010. Fico me perguntando.. se até a revistinha da classe média trouxe matéria curiosamente acertada sobre o esvaziamento do modelo que o presidente instaurou, o empalhamento das criaturas e etcs.. qual será o contraponto de Barreto ao cinema-direto de João Moreira Salles?
As pulgas da memória pinicam e trazem de volta a campanha de 2002, em Entreatos, lançado em 2004. E o comentário do diretor sobre a dificuldade confessa do então candidato em estar só. Como será, presidente, quando acabar a festa da posse em 1º de janeiro de 2011?
Nem é bom pensar no que os 16 meses que nos separam do evento reservam. Atirada na lata de lixo a história do PT, eu e tantos como eu, que acreditavam, estaremos órfãos.
Quando o jornalista de celebridades David Frost confrontou Richard Nixon com a verdade mais nua, o impopular ex-presidente norte-americano capitulou. Lula não capitula. Não ainda, está na zona de conforto que permite escolher seus biógrafos históricos. Não há de ser para sempre.
Vamos combinar as entrevistas, presidente?

Um comentário:

  1. esse Lula tem um magnetismo inacreditável. Ee consegue tudo o que quer. sua sede por poder é muito grande.... isso que ele quer, e isso nao o livra e nao o diferencia de nenhum outro político do mundo.
    bjs para vc. gostei do texto
    ale staut

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hum..