agosto 23, 2009

a.M.

Tomo emprestada a expressão bem-humorada do professor Leandro Karnal (Unicamp) para dizer da minha sempre surpresa com o abismo que me separa da geração dos meus filhos. Sou a.M. – antes do Mouse -, eles são d.M.
Eu e meus pais aprendemos datilografia (a-s-d-f-g..) em remingtons modernas, ouvimos Beatles, Stones e Sinatra nos surrados LPs que faziam a alegria de toda a galera. Sofremos da mesma ignorância política no pós-64 e lemos fotonovelas.
Meus filhos fazem o diabo no computador, não se importam em usar qualquer plataforma para assistir vídeos (preciso outra vez trocar os óculos), surfam displicentes pelo universo fake das redes sociais. E, course, me ajudam a resolver pequenos problemas.
Euzinha piloto meu editor de texto com ares de autosuficiência, mas quebro a cabeça com miudezas internéticas. Eles navegam por games sofisticados, Sony Vegas, fanfiction.net e Wii com habilidade impressionante.
O que pra mim é simulacro quase assustador pra eles é banal – a representação é mais importante, sim, do que a realidade. Seriam 'sujeitos históricos virtuais'? Desconhecem a afirmação do filósofo francês Jean Braudrillard de que “a revolução contemporânea é a da incerteza”. E isso não faz a menor diferença.
Enquanto problematizo a dissolução de fronteiras e o relativismo de valores, eles estão mais interessados em saber quanto tempo vai levar para o mercado colocar à venda veículos de locomoção rápida pelos ares da metrópole.
Vez ou outra, ainda vamos à praça do pôr-do-sol com o cãozinho, mas anseiam voltar ao laptop no escuro do quarto antes do crepúsculo. Nos entendemos bem, damos risada e temos conversas interessantes, mas fico com a sensação de que me faltam ainda dispositivos mentais e virtuais menos ‘obsoletos’ para uma outra interlocução.

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hum..