agosto 30, 2009

Adolescentes lêem.. o quê?

si, si, vou fazer a listinha dos livros que gostaria que alguém me indicasse quando era garota. vai ser diferente da lista do Rubens Paiva, até porque, até hoje, nem li tudo o que ele sugeriu pras idades mais tenras.. não sou famosa.

vale a Odisséia, que já lia pros meus pequenos e eles sempre amaram as maluquices em que o Ulisses se metia.
do Machado de Assis, contos (tem que selecionar), que os romances Iaiá Garcia e A Mão e a luva – das minhas merendas escolares literárias – não dialogaram com meu tempo de debut, menos ainda com o tesão dessa moçada pós.
do Guimarães Rosa, Miguilim (pra começar).
Vidas Secas, do Graciliano (pra começar).
Crônica de uma morte anunciada, do Gabriel García Marquez. difícil, mas janela pra imaginação.
Memórias do Subsolo, do Dostoievski, é lindo, mas inadequado, não fala ainda pra o que eles procuram.
a saga do minino Potter é bacanérrima. viajandona como deve ser..
A menina que roubava livros, do australiano Markus Zusak, uma pérola.
âh.. só clássicos? sorry, não dá. a conversa é só sobre clássicos?
então precisa alguma coisa do Italo Calvino..

Bella, quando se encantou com um ator x, viu Shakspeare numas lentes que remontaram um Romeu e Julieta moderno. daí – fofa – catou um volume do dramaturgo, andou com ele uns tempos. deve ter lido outras tragédias. mas vive com uns objetos estranhíssimos, tipo Gossip Girl, pra lá e pra cá. bom.. ela tem o universo do cinema bombando..

Bê é mais eclético, curte Amir Klink, relatos históricos, mundo estranho, etcs. na verdade, é viciado em estatísticas e vive fazendo cálculos estranhos. adora pocket books de piadas, mas ainda não tem idade pra um H.L. Mencken. vai chegar lá.. por oras, anda lendo uns policiais que não são Agatha Christie nem Edgar Allan Poe.

sorry, não me preparei pra fazer uma lista de clássicos pra adolescentes. são só palpites.
mas Drummond, sim. Tabacaria, ainda não.
e Capitães de Areia, do Jorge Amado, não pode faltar. dialoga com a esperança.
Crime e Castigo é um acontecimento na vida de qualquer pessoa. não estou bem certa se de adolescentes, é muito exigente. a baratinha do Kafka vai na mesma vibe.
Dom Quixote, tá, romance fundador, blá blá blá. eles estão lendo.. versões. nem sei se são boas, mas aquele volume gigante é meio chato, uma pedreira até pra adictos. não sei..
Murilo Rubião, aposto que iam curtir. o universo fantástico combina com o que não se pode compreender nesses anos loucos da adolescência. combina com mais que isso.

ainda bem que o Marcelo não é dono de escola pra obrigar as leituras citadas. tá viajando. a moçadinha deveria ler tudo isso sim. mas, tem tempo. enquanto lêem, tá valendo.

a minina Maria, por exemplo, está encantada com Elis Regina aos sete anos. filha de poeta com músico, não há de ser regra.

agosto 23, 2009

Lula X Nixon

Em 1984, quando as ruas do país foram ocupadas pelo movimento das Diretas Já, eu estava lá, ainda não tinha 20 anos. Em 1992, nas manifestações pelo impeachment do Collor, tinha diploma universitário (sic) e também estava lá, cara pintada, levando o bordão “Indignação...”.
A alternativa que se construía naqueles anos tinha como endereço estancar a bandalheira corrupta que contaminava o poder e seus ‘vasos comunicantes’, como gostava de dizer Brizola na campanha de 1989.
Primeiro líder de um partido de esquerda eleito presidente, com 61% dos votos válidos, em 2002, Lula vinha lavar a alma do povo brasileiro. Desde então, nunca antes na história deste país, tanto se fez para reduzir o fosso entre os invisíveis e as elites. Os avanços sociais e algum bom senso na condução das políticas econômicas de lá pra cá estão aí para comprovar os muitos acertos do governo.
Mas.. – e me desculpo antecipadamente à fúria insana da minha amiga Sylvia Manzano, que virá, eu sei – o presidente deixou-se enredar pelo canto da sereia e transformou-se em mais um contaminado pela banda podre do poder. Ele e seu pessoal – Mercadante é um dos ícones mais emblemáticos e tristes – estão aí, a serviço de conveniências privadas. Confessar erros e admitir culpa?
Remete a um dos melhores roteiros de cinema dos últimos tempos, Frost X Nixon, do dramaturgo inglês Peter Morgan. Na lógica que, segundo o próprio Morgan, leva ao modus operandi de Shakespeare, juntar fato e ficção na recomposição de figuras históricas pode ser um excelente recurso de exploração da alma humana.
Lula, o Filho do Brasil, de Fábio Barreto, tem estréia no circuito comercial prevista para 2010. Fico me perguntando.. se até a revistinha da classe média trouxe matéria curiosamente acertada sobre o esvaziamento do modelo que o presidente instaurou, o empalhamento das criaturas e etcs.. qual será o contraponto de Barreto ao cinema-direto de João Moreira Salles?
As pulgas da memória pinicam e trazem de volta a campanha de 2002, em Entreatos, lançado em 2004. E o comentário do diretor sobre a dificuldade confessa do então candidato em estar só. Como será, presidente, quando acabar a festa da posse em 1º de janeiro de 2011?
Nem é bom pensar no que os 16 meses que nos separam do evento reservam. Atirada na lata de lixo a história do PT, eu e tantos como eu, que acreditavam, estaremos órfãos.
Quando o jornalista de celebridades David Frost confrontou Richard Nixon com a verdade mais nua, o impopular ex-presidente norte-americano capitulou. Lula não capitula. Não ainda, está na zona de conforto que permite escolher seus biógrafos históricos. Não há de ser para sempre.
Vamos combinar as entrevistas, presidente?

a.M.

Tomo emprestada a expressão bem-humorada do professor Leandro Karnal (Unicamp) para dizer da minha sempre surpresa com o abismo que me separa da geração dos meus filhos. Sou a.M. – antes do Mouse -, eles são d.M.
Eu e meus pais aprendemos datilografia (a-s-d-f-g..) em remingtons modernas, ouvimos Beatles, Stones e Sinatra nos surrados LPs que faziam a alegria de toda a galera. Sofremos da mesma ignorância política no pós-64 e lemos fotonovelas.
Meus filhos fazem o diabo no computador, não se importam em usar qualquer plataforma para assistir vídeos (preciso outra vez trocar os óculos), surfam displicentes pelo universo fake das redes sociais. E, course, me ajudam a resolver pequenos problemas.
Euzinha piloto meu editor de texto com ares de autosuficiência, mas quebro a cabeça com miudezas internéticas. Eles navegam por games sofisticados, Sony Vegas, fanfiction.net e Wii com habilidade impressionante.
O que pra mim é simulacro quase assustador pra eles é banal – a representação é mais importante, sim, do que a realidade. Seriam 'sujeitos históricos virtuais'? Desconhecem a afirmação do filósofo francês Jean Braudrillard de que “a revolução contemporânea é a da incerteza”. E isso não faz a menor diferença.
Enquanto problematizo a dissolução de fronteiras e o relativismo de valores, eles estão mais interessados em saber quanto tempo vai levar para o mercado colocar à venda veículos de locomoção rápida pelos ares da metrópole.
Vez ou outra, ainda vamos à praça do pôr-do-sol com o cãozinho, mas anseiam voltar ao laptop no escuro do quarto antes do crepúsculo. Nos entendemos bem, damos risada e temos conversas interessantes, mas fico com a sensação de que me faltam ainda dispositivos mentais e virtuais menos ‘obsoletos’ para uma outra interlocução.

agosto 15, 2009

Chororô

14 de Agosto – Dia do Protesto
E qualquer crença no futuro parece tão rasteira diante do cotidiano esmagador do todo dia.. Sou otimista de carteirinha, mas tem limite. Tem a rua, o noticiário. Dá desalento..
Seremos, em 2020, ou 2030 - tabulam os analistas do Goldman Sachs - potência mundial. Não desdenho. Só queria saber a contabilidade das perdas e ganhos desse desenvolvimento.
Os fodidos ‘invisíveis’ estão nas calçadas à razão de 20 sujeitos, ou mais, por 100 metros quadrados, no centro de São Paulo. Nas noites geladas, jornal, papelão e cobertores ralos. Sem contar os zumbis da Cracolândia, que agora têm mobilidade curiosíssima – certa hora do dia tomam as calçadas da avenida São João e..
Somos emergentes de merda, BRIC fake, com investimento pífio em pesquisa, poucas áreas de excelência e as camadas do pré-sal à revelia da voracidade paquidérmica. Distribuição de renda, let it go..
O senado faz vômito. E o Lula joga na lata de lixo os poucos avanços inclusivos, como o bolsa família – paternalismos à parte, é do caralho, estratégico –, no vai-da-valsa. Pactua com o mais desprezível da elite. Ética de pernas quebradas.
As desigualdades persistem, pretensos cidadãos, pequenos e médios caem nas malhas da cidadania barata das agências reguladoras. Outra falácia, instituições a serviço não se sabe de quem. Privatizar lucros, socializar ônus. Putz, até quando?
Gentilezas tíbias, pântano galopante. Qual o endereço do desabafo? É como ir de um estado embriagante pra outro estado, embriagado. Elasticidade sem rumo que preste. Alternativas escassas, amarro uma pedra no pescoço e me jogo no Ganges?
Prever o comportamento individual já é difícil. O coletivo, então..

agosto 12, 2009

Uma ilusão bem produzida = realidade.

agosto 09, 2009

Agosto

Advogado, escoteiro do mar, solteiro, fotógrafo, maçom, caçador, soldado. Feirante, catequista, psicólogo, peão de boiadeiro, corretor de imóveis, avicultor, bancário, filósofo.
Não! Não há de ser um propósito ficcionista pra um personagem incomum, improvável. São datas comemorativas de agosto.
Dia do Cachorro Louco pra inaugurar esse mês de ventos e pipas e ratificar a sabedoria de roça da avozinha, que intuía ‘mau agouro’. O dia do Azar (13) coincide com o dia dos Encarcerados e o dia do Pensamento.
As curiosidades abundam.. Tem o dia da Conscientização Nacional. O que seria? Como assim e por quê? Sorry, não sei responder. Andei procurando e encontrei consciência negra, consciência gay, até o Dia Nacional de Conscientização sobre a Síndrome do Olho Seco, que, vale dizer, é em setembro. Buh..
Tem as datas queridinhas: dia dos Pais, do Folclore, da Pindura e.. o dia do Protesto (14, vai cair numa sexta). Borá protestar, vamos nos organizar.. iê iê iê (sic). Porque, aos 23 de agosto, é o dia Contra a Injustiça!
Também vai ter o dia do Garçom, em São Paulo sem fumacê. Pra coroar, no fim do mês, dia do Combate ao Fumo.
Em 1901, Santos Dumont sofreu revesses com seu dirigível em Paris, num evento envolvendo uma chaminé. Foi resgatado por bombeiros. Era agosto.
Nasceram pessoas bacanas: Adoniran Barbosa em 1910, Caetano Veloso em 1942. Guimarães Rosa foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1963 e Golbery pediu demissão do Gabinete Civil por conta do Rio Centro em 1981. Roberto Marinho deixou o convívio dos mortais em 2003.
Poucos santos: duas nossas senhoras, das Neves e da Glória, Santa Clara, São Roque e São Bartolomeu.
Em algum dia do mês comemora-se a televisão.. Vai entender.

agosto 07, 2009

Pulmões paulistas 3

Vamos fumar lá fora?
Eu já falei aqui o que acho dessa lei antitabagista que vai atingir a cidade de São Paulo esse mês. Agosto já começa com um desgosto. E vou continuar repetindo que dançar sem fumar é muito chato. Mas como às vezes uma otimista sai de dentro do meu corpo pessimista, já comecei a me apegar a uma pergunta. Uma pergunta bem simples, mas que pode causar muita coisa: “vamos fumar lá fora?”
A proibição absoluta ainda nem começou, mas já comecei a falar (e a ouvir) essa frase com gosto. Tenho ido fumar lá fora. E tem sido bom.
Fumar lá fora possibilita encontros. Conheço gente que foi fumar lá fora e se beijou. Conheço gente que foi fumar lá fora e ficou amigo para sempre. Muita coisa, repito, pode acontecer quando você vai fumar lá fora. Você pode ouvir histórias incríveis, porque geralmente quem vai fumar lá fora tem coisas maravilhosas para contar. Você pode rir fumando lá fora. Você pode fazer confissões fumando lá fora. Você pode chamar quem você quiser para fumar lá fora.
A conversa na mesa está chata? Vamos fumar lá fora.
Quer falar uma coisa só para uma ou duas pessoas? Vamos fumar lá fora.
Quer um segundo de intimidade no meio da noite louca? Vamos fumar lá fora.
Quer ficar sozinha um pouco? Vá fumar lá fora.
Sim, governadores, prefeitos e politicamente corretos do mundo, vocês conseguiram acabar com uma das melhores frases do mundo, aquela linda, dita com charme na pista de dança: “você tem fogo”. Mas vocês não conseguiram nos destruir. Agora temos outra. Está tudo certo. Façam as suas leis. Enquanto isso, a gente vai fumar lá fora. (Nina Lemos)

agosto 06, 2009

Pulmões paulistas 2

A hora zero da sexta dia 7 não tarda.
Guardados os benefícios que a lei antifumo trará à saúde da população e o pouco caso para as liberdades, cabe indagar sobre a contrapartida do poder público no que toca à assistência terapêutica e fornecimento de medicação antitabagista gratuitamente para quem quer parar de fumar, previstos na letra do código.
Pra ficar num só exemplo, no Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas), no bairro da Luz, o atendimento informou, hoje pela manhã, que o tempo de espera para participar do programa antitabagista é de cinco meses.

agosto 02, 2009

Pulmões paulistas 1

A lei antifumo que entra em vigor na próxima sexta, dia 7, é autoritária, sim. Institucionaliza coerção, delação e polícia como instrumentos para controlar o tabagismo no estado de São Paulo.
Tem lá suas legitimidades, course. Até invertebrados sabem que fumar faz mal à saúde. Mas, como opinou um sujeito outro dia, por que não deixar que o mercado – neste caso, estabelecimentos e consumidores – se autoregule? De um lado da calçada, teremos ambientes assépticos, pessoas cheirosas e felizes. Do outro, ou uma quadra adiante, a fumarola solta, roupas e cabelos fétidos e outras tantas pessoas felizes.

Na minha ‘escravidão libertária’ de suicida homeopática, que é a condição do fumante, e nesse contexto de liberdades ralas, faço torcida pra que as festas e reuniões na casa dos amigos fumantes multipliquem-se.